Entrevista com Fernando Maia, petroleiro e presidente do Sindipetro-RS

A ASERGHC conversou com o presidente do sindicato dos petroleiros do RS, Fernando Maia. Confira a entrevista e fique por dentro da greve nacional dos petroleiros que já atinge 118 unidades no país, segundo levantamento da Federação Única dos Petroleiros (FUP).

Na próxima terça-feira, dia 18, o movimento grevista prepara uma grande marcha no centro do Rio de Janeiro. Enquanto isso, a direção da Petrobrás nega o diálogo com a categoria, e tenta reprimir os trabalhadores judicialmente.

 

ASERGHC – A patronal quer demitir mil trabalhadores da Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados (Fafen), no Paraná. Qual a justificativa para a demissão em massa e qual o impacto dessa medida na categoria?

Fernando Maia – A Petrobrás definiu pelo fechamento da Fafen e demitir todos os empregados. No acordo coletivo de trabalho (ACT), assinado em novembro de 2019, está escrito:

“Cláusula 26. Excedente de Pessoal – A Companhia assegura, nos casos em que haja excedente de pessoal decorrente de reestruturações e/ou redução de atividades, buscar realocar o pessoal em outras unidades da Companhia, promovendo treinamento e requalificação quando necessário.

Parágrafo 3° – A Companhia não promoverá despedida coletiva ou plúrima, motivada ou imotivada, nem rotatividade de pessoal (turnover), sem prévia discussão com as Entidades Sindicais. I. Excetuam-se do previsto no parágrafo acima os planos de demissão voluntária ou incentivada, bem como os processos de movimentação interna dos empregados.”

Ou seja, seja descumprindo o ACT. Descumprindo este ACT, poderá descumprir qualquer um!

 

ASERGHC – O governo federal tem passado, nos últimos anos, partes da Petrobrás para iniciativa privada. O que a privatização total da empresa pode significar para a população e para a economia do país?

Maia – Diretamente para o povo, aumento dos preços de derivados (diesel, gasolina, GLP…) e produtos (asfalto, petroquímicos), redução de empregos e renda dos trabalhadores, precarização nas relações de trabalho, saúde e segurança.

Na economia do País, redução drástica de investimentos na área de refino, redução na geração de impostos e distribuição de renda, deficiência no suprimento de derivados nas área/regiões mais distantes.

 

 

ASERGHC – Quais os resultados da terceirização nas atividades da Petrobrás e para os petroleiros?

Maia – Precarização das condições de trabalho, redução na qualificação dos profissionais da área, redução nas condições de saúde e segurança no trabalho, além da redução drástica na renda.

 

 

ASERGHC – Como a patronal tem desrespeitado os direitos do Acordo Coletivo dos petroleiros?

Maia – No ACT, ficaram definidos grupos de trabalho e comissões para elaborar mudanças nas tabelas de turno (regime de trabalho e distribuição de jornadas, durante os dias da semana/mês/ano), regras para pagamento de participações de lucros e resultados e alterações nos sistemas de registro de cartão ponto. Isso gera distorções na extensões de jornada e coloca os trabalhadores em condições inseguras, sem o devido registro de entrada nas unidades operacionais.

 

Presidente da ASERGHC, Arlindo Ritter, esteve no piquete dos petroleiros da REFAP, em Canoas.

ASERGHC – Os petroleiros têm construído atividades de mobilização e diálogo com a sociedade, como a venda de gás de cozinha subsidiado por R$ 40,00. Como vocês percebem o apoio a essas ações?

Maia – Por parte da sociedade, nos locais em que ocorreram essas atividades, a aceitação e a compreensão do que nos propusemos a esclarecer foi muito exitosa e podemos mostrar a importância de termos uma Petrobrás pública e voltada a atender as necessidades da população. Também procuramos esclarecer que há, sim, possibilidade de a Petrobrás praticar preços mais baixos, praticando subsídio na venda de GLP (gás de cozinha), sem grandes impactos no desempenho econômico da empresa.

 

ASERGHC – O que as demais categorias de trabalhadores e sindicatos podem fazer para apoiar essa luta?

Maia – Todo apoio é muito bem vindo e a divulgação do que estamos fazendo, para tentar quebrar as barreiras que a mídia hegemônica tem feito a nossa greve, são muito importantes. Mas, as demais categorias, principalmente aquelas que têm sido sistematicamente atacadas pelo atual governo, deveriam unir-se a nossa greve e construirmos uma grande greve nacional contra o desemprego, a desindustrialização, os ataques aos servidores públicos e a desnacionalização industrial, para barrar todo esse processo de desmonte e desestruturação da nossa economia.

Fotos e entrevista: Comunicação ASERGHC/Nathália Bittencurt